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::O CARTEADO DE ALESSA E MURILO RUBIÃO::

6 Set

E quando você lê uma coisa e não tem certeza do seu sentimento: amou ou detestou? É melancólico ou é esperançoso?

Fiquei assim no caminho do meio quando li o conto “O ex-mágico na taberna Minhota” (que está na coletânea ‘O pirotécnico Zacarias’). Nele, o Murilo Rubião narra com um sentimento de melancolia que divide lugar com a esperança a história de um mágico diferente porque vivia exaurido da sua sina de sempre divertir os outros.

Era-lhe tedioso retirar lençóis dos bolsos ou arco-íris dos lábios. Era tanta tristeza que o mágico tinha vontade de morrer. Divertir os outros era pra ele uma tristeza sem fim, porque ele não sabia ser outra coisa, só mágico mesmo. Ele desejou morrer. E tentou de toda forma mas era tanta magia que se ele tentava morrer pela boca de um leão o leão era de gelatina.

Se tentava dar um tiro na cabeça… a arma virava um lápis. Até ouviu falar da morte definitiva: “virar funcionário público era sucidar-se aos poucos”. Entrou para o serviço público, mas não morreu.

Na verdade o mágico se apaixonou e a única vez que ele tentou usar de mágica para si, para conquistar sua colega de trabalho… a mágica falhou. E ele desejou do fundo do coração soltar arco-íris pela boca novamente, ter lençóis nos bolsos. Porque sentiu que o mundo seria mais feliz assim.

Talvez era esse o sentimento de Alessa quando pôs na passarela do seu inverno 2008 cartas de baralho, de todos os naipes, vestidos em vermelho, preto e branco; alguns em tecido plissado que se abre como cartas à mesa. Desejando um cotidiano mais mágico. Tudo apresentado embaralhado como manda o figurino dos jogos de carta. Alessa acreditou sobretudo na mulher que se veste de carteado pra enfrentar o cotidiano e talvez, como o mágico tenha aprendido a lição:  a mágica verdadeira não se traveste a toa. A mágica precisa de um pouco de fé.

Alessa e o mágico de Rubião talvez tenham chegado no fim das contas à mesma conclusão: travestir o cotidiano de magia nada tem de loucura. Ambos entendem a lógica da mágica eque nada tem de simples ilusão. Alessa propondo mulheres que ora vem vestida de baralho, ora de bobos da corte e o Mágico se ressentido, no fim, de não ter criado um mundo mágico onde todos poderiam viver.