Tag Archives: Retrato de Dorian Gray

::O DANDISMO DE JOÃO PIMENTA::

3 Ago

Um homem feminino: foi a sentença após João Pimenta desfilar sua moda masculina nas passarelas de inverno da SPFW para o inverno 2011. Feminino nas formas abaoladas, nos decotes sugestivos, nos recortes cheios de fendas, nos ombros salientes.A moda para vestir um novo homem? Talvez não tão novo. Na literatura um homem se eternizou como um dos mais famosos homens femininos que já se teve notícia: Dorian Gray.

Retrato do dandi de época, sim, dândi, aquele homem super vaidoso, beirando o hedonismo que admira a própria figura feito um narciso e esmera-se no vestir, no andar, no falar produzindo quase uma caricatura de homem, um homem feminino. embora naquela época o dandismo se vestisse dos mais belos ternos, cortados perfeitamente e completos com paletó, calça e colete, como manda o figurino. Ao dândi não bastava a beleza externa mas também um elogio a uma vida de contemplação com doses de bon vivant. Por isso a vida resumia-se a frequentar salões, ir á operas, cortejar as mais belas mulheres, festas, salões, ópio. Flanar pela vida com o compromisso de viver plenamente sem a opressão do trabalho e com a classe estética apurada

Os dandis de João Pimenta na SPFW 2010

Dorian Gray elevou ao extremo o dandismo. Apaixonado pela própria beleza deixou-se pintar e o pintor foi de modo preciso que o quadro tornou-se um ser quase vivo// Dorian , admirado, estupefado pela beleza que o quadro foi capaz de captar num exaspero infantil praguejou com toda a força o evelhecimento e desejou que sua beleza e juventude fossem eternos. Assim como na mitológica história de pigmalião, misteriosamente o quadro tornou-se criatura e ficou com um tabernáculo, uma urna, captando toda a vivacidade da vida de Dorian que pouco a pouco fez de sua vida o retrato do egoísmo e da tirania. Dorian praticava toda sorte de malgrado e permanecia jovem mas o quadro captava todas feições e envelhecia, enrugava-se, entregue a calvície e com o olhar cheio do ódio e do vazio da vida de seu retratato. Oscar Wilde nesta novela sensacional conta o retrato de uma geração mas também como a beleza é uma prisão enganosa , como o próprio desejo as vezes pode se tornar o pior algoz de um homem.

João Pimenta em suas provocativas roupas capta os dois olhares: a paixão por si mesmo do dandi e a força do desejo. Seu homem vem em corpo e alma vestido daquilo que mais irreal, surreal como um quadro que capta os próprios defeitos desafia a lógica das roupas em formas femininas, arredondadas, luminosas, terrosas quase maternais e emergem na força do desejo de fazer da moda masculina algo além do superficial dos combinados de peça simples e propõe convexas curvas e, como um novo dandi do século XXI seu homem quer mais do que usar saias e do que amar a si mesmo na superficialidade de um metrossexual  – ele deseja libertar-se de uma moda lugar comum;  de roupas lugares comuns.

Resta saber se o novo homem será – como foi Dorian Gray – algoz de seu próprio desejo.